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De mulher para mulher

Por Sandra Bozza
Educadora, Socióloga e Linguista

Ainda que tenhamos motivos para comemorar as ainda pequenas conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, a data de 08 de março poderia evocar, este ano, um espaço para reflexão sobre o papel de algumas de nós que continuam contribuindo para que o gênero feminino ainda não tenha o respeito que lhe é de direito. Fui criada numa família onde um mote era precioso: o famoso prendam suas cabras que meu bode está solto. Até aí não há novidades, pois o atraso de mentalidade não tem relação com o tempo nem com o espaço, mas com a conservação ou superação de determinadas ideias. Todavia, o que me horrorizava, sobremaneira, era o machismo de todas as mulheres da família, que averbavam essa postura. Fico feliz por ter percebido e combatido cedo isso e hoje continuo estarrecida pelo fato de poucos se indignarem com o que se vê, por exemplo, nas redes sociais. Como não perceber a diferença de tratamento dispensada a um ou outro gênero? Não raro encontramos posturas aparentemente inocentes (meu príncipe, ser mãe de menino, a princesinha e outras do gênero), mas que se caracterizam como machistas e são postadas por mulheres. A simples e recorrente afirmação de que com meninos as coisas são diferentes já denota a ignorância de que somos o que somos graças à cultura, e à educação que recebemos. Todavia, aforantes os inocentismos, duas questões graves me induziram a escrever o que se lê nesse instante. A primeira delas é a notícia sobre festas que oferecem bebida free para mulheres que comparecerem com saia curta. O triste, é que quando questionadas, mulheres não se sentem tomadas como objeto sexual e nem como vítimas de práticas machistas. A outra, que para mim é crucial, é a produção de Literatura Infantil com contos dirigidos para meninos (Peter Pan, Capitão Gancho e O Barba Azul), logicamente na cor rosa, para as meninas: Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve. Esse olhar míope só corrobora a visão embaçada de mundo e de igualdade. Quando se consome esse tipo de produto estamos respaldando uma ideologia sexista que há muito deveria ter sido superada. É o mesmo que exigir da filha tarefas domésticas, enquanto o menino joga no sofá. Ou ainda, naturalizar o fato do rapaz trazer a namorada para dormir em casa, enquanto se considera imoral a moça fazer igual. A frase, “Ela é mulher, mas é competente!”, referindo-se a uma ministra, proferida pelo presidente da FIESP, na década de 90, não me choca tanto quanto algumas posturas femininas atuais. Urge ficarmos atentas, pois o machismo tanto pode ser erradicado quanto perpetuado por nós, as mulheres.