Estudantes discretos, que geralmente recebem pouca atenção, precisam ser envolvidos na aula
Você se lembra de refletir sobre aquele aluno que tem um desempenho escolar mediano, não causa problemas e costuma participar pouco das aulas? Esse perfil raramente é discutido nas reuniões pedagógicas. Preocupamo-nos com as dificuldades de aprendizagem daqueles com baixo rendimento ou com o comportamento dos indisciplinados, criamos desafios para os mais ativos, mas não dedicamos muito de nosso olhar aos discretos, que não levantam a mão para falar. Como será que esse grupo se relaciona com o saber? O que o mobiliza? Como podemos ajudá-lo a avançar?
Um conhecido me disse certa vez que se sentia invisível na escola. Ele era inteligente e curioso, mas, por ser tímido, não explicitava as dúvidas e inquietações em sala. Jamais era selecionado para ser representante de classe e as atividades que entregava nunca eram lidas coletivamente. Só foi percebido pela equipe docente quando a mãe faleceu. Aquele estudante desconhecido se transformou no “menino órfão” e o status lhe garantiu visibilidade. As produções passaram a ser elogiadas e expostas no mural, ele foi escolhido para hastear a bandeira e os professores solicitavam sua participação na aula. Nesse período delicado da vida, seu desempenho melhorou.
Quantos outros poderiam nos surpreender se tivessem uma chance de mostrar de que são capazes? A maioria das pessoas desabrocha quando é valorizada. O reconhecimento público é algo extremamente significativo e não deve ser negligenciado. Às vezes, para fazer alguém se envolver na aula, basta um comentário positivo ou a oportunidade para comunicar um saber sobre um interesse pessoal.
Há muitas maneiras de engajar os alunos imperceptíveis. Primeiro, é preciso identificá-los e investigar como se relacionam com o conhecimento. Isso pode ser feito com o levantamento dos centros de interesse deles e na análise das produções, da qualidade das participações na aula e das atitudes na sala, na quadra e nos intervalos. O passo seguinte é planejar intervenções que favoreçam a troca de ideias com os outros colegas. Finalmente, deve-se criar situações em que eles sejam protagonistas e coletivamente reconhecidos.
Deixar a invisibilidade social pode fazer toda a diferença para alguém que está construindo a identidade de estudante-cidadão. Além disso, nossa responsabilidade, como educadores, é com todos. Inclusive com aqueles que precisam ser descobertos.